A LACUNA em Gênesis 1 - É Uma Teoria? - Bruce Anstey
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quinta-feira, 5 de março de 2020
domingo, 9 de fevereiro de 2020
A Visão da “Terra Jovem” Parece se Basear em Crenças Arminianas
A Visão da “Terra Jovem” Parece se Basear em Crenças Arminianas
Quando recuamos e olhamos o raciocínio por trás da visão da criação da “Terra
Jovem”, vemos que é um esforço bem-intencionado para desmascarar as noções de Evolução,
com o propósito de tornar o evangelho mais convincente para o mundo. Negar as
conclusões científicas deles sobre a criação é, em suas mentes, um terrível
compromisso com a Evolução. Eles acreditam que, se considerarmos que existe um
período de tempo não revelado (uma lacuna) antes de Deus começar a fazer a
Terra atual, então estamos abrindo a porta para as pessoas pensarem que a Evolução
está certa no final das contas. Por isso, em suas mentes, isso prejudica a
mensagem do evangelho.
R. Radebaugh resumiu o movimento da Ciência Criacionista como sendo “uma
reação instintiva à Evolução”. No fundo do movimento da Terra Jovem, vemos Cristãos
tentando provar aos ateus e infiéis do mundo que eles estão errados sobre a Evolução,
e que eles deveriam se voltar a Cristo para serem salvos. Agora, esses crentes
amados (Criacionistas da Terra Jovem) podem ser elogiados por suas boas
intenções, mas a premissa de seu esforço revela uma ignorância básica de um
grande fato do evangelho – que o homem na carne é totalmente depravado e que
não tem poder (livre arbítrio) para mudar sua mente e então crer. A Escritura apresenta
a condição de uma pessoa perdida (um incrédulo) como estando espiritualmente “morta”
(Ef 2:1- 5; Cl 2:12-13), não tendo nenhuma faculdade espiritual para ouvir e
crer na mensagem do evangelho. Segundo a Escritura, o homem em seu estado
natural na carne:
- Não
pode “ver” (entender) o reino de Deus (Jo 3:3).
- Não
pode “entrar” no reino de Deus (Jo 3:5).
- Não
pode “receber” o testemunho de Deus a respeito de Seu Filho (Jo 3:27,
32; 1 Co 2:14).
- Não
pode se mover para “vir” a Cristo e ser abençoado (Jo 6:44, 65).
- Não
pode “dizer” (ou discernir) a verdade (Jo 8:14).
- Não
pode “ouvir” a verdade (Jo 8:43, 47).
- Não pode “agradar a Deus” (Rm 8:8).
Sendo assim, a Escritura em nenhum lugar convoca os Cristãos a
argumentarem ou debaterem com ateus e infiéis sobre os vários tópicos de sua
incredulidade. De fato, Ela nos adverte contra tais táticas (2 Tm 2:14). Nós
não fomos chamados para convencer o homem na carne da existência de Deus e de Sua
criação. A Bíblia não tenta explicar isso, mas pressupõe que todos os que a
leem têm fé (Hb 11:6). Se pudéssemos convencer intelectualmente os homens não
regenerados a abandonar suas falsas ideias de Evolução e crer no Senhor Jesus,
então sua “fé” estaria apoiada “em sabedoria dos homens” e não no
“poder de Deus” (1 Co 2:5). Argumentos científicos inteligentes não
podem convencer os incrédulos a receber o Senhor Jesus Cristo, porque os homens
em seu estado natural não têm faculdades espirituais para entender a verdade;
tudo é tolice para eles (1 Co 2:14). Se alguém crê no evangelho, é somente por
causa do poder vivificador de Deus. Ao vivificar (ou no novo nascimento) o
Espírito de Deus aplica a Palavra de Deus à alma e assim comunica vida divina a
eles. Assim, eles recebem a capacidade de ouvir e responder ao chamado de Deus
no evangelho. Nossa responsabilidade em compartilhar o evangelho, portanto, é
apresentar a mensagem da graça redentora pela Palavra de Deus com clareza,
simplicidade e veemência, e deixar os resultados com o Espírito de Deus que é o
único que tem o poder de transmitir vida e levar os homens ao arrependimento e a
crença no Senhor Jesus. A Bíblia diz: “E creram todos quantos estavam
ordenados para a vida eterna” (At 13:48).
Assim, a premissa dos esforços dos Criacionistas da Terra Jovem tem uma
base errada. Parece estar baseado em equívocos arminianos sobre o estado caído
do homem. Jacó Armínio (1560-1609 d.C.) ensinou que todos os homens são
pecadores depravados, mas ele não viu que a depravação deles era tal que não
podiam escolher crer no evangelho. Ele ensinou que, embora os homens sejam
criaturas caídas, eles ainda são agentes morais livres e, portanto, têm o poder
para crer no evangelho, se assim desejarem. (A verdade é que o homem não
regenerado não tem livre arbítrio; pode ter escolha nas coisas comuns da
vida, mas nunca escolherá a Cristo).
Não estamos dizendo que todo Criacionista da Terra Jovem é arminiano em
sua doutrina, mas que o efeito que o arminianismo teve em muitos Cristãos os
levou a acreditar que é seu dever argumentar com os ateus e infiéis do mundo, e
tentar convencê-los de que suas ideias estão erradas e que devem crer em
Cristo. A maioria dos Cristãos evangélicos de hoje é arminiana em seus pontos
de vista e, portanto, não vê nada de errado com a apresentação intelectual do
evangelho pelo Criacionismo da Terra Jovem por meio da ciência. Entretanto,
embora seus motivos possam ser bons, todo o exercício revela uma incompreensão
básica da depravação total do homem. Eles supõem que ainda existe uma
centelha de bem no homem caído que lhe dá o poder de escolher crer – se ele
quiser. (Portanto, devemos tentar argumentar com os homens e convencê-los da
verdade pela ciência e a geologia etc.) Se isto é assim, então o homem caído
não é totalmente depravado e, afinal the contas ele não está morto!
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O resultado final da visão da “Terra Jovem” é que é preciso
desconsiderar o que os irmãos confiáveis que ensinaram sobre a Bíblia disseram
sobre o tema da criação e adotar um novo ensino, porque a ciência e a geologia
supostamente descobriram que esses mestres estavam errados. Acreditamos que
seria mais seguro deixar a ciência fora de cena e permanecer com uma exposição sadia
da Escritura, o que foi atestado por respeitados estudiosos da Bíblia durante
um período de muitos anos. E também, para evitar interpretações novas e
inventadas que foram concebidas para apoiar essas descobertas científicas.
Conclusões e Considerações
Conclusões e
Considerações
Há alguns pontos finais a considerar em conexão com a visão da “Terra Jovem”
de Gênesis 1. As coisas que agora abordaremos têm a ver com os princípios sobre
os quais a crença se baseia – o que acreditamos que está na raiz da
interpretação.
A Visão da “Terra Jovem” Parece Refletir Uma Confiança Indevida no que
os Cientistas Dizem e Não no que a Palavra de Deus Diz
Parece que a interpretação da “Terra Jovem” é baseada mais em testes
científicos e descobertas geológicas do que no que a Escritura diz. Ver Cristãos
que acreditam que a Bíblia é o guia e autoridade suprema sobre a qual todas as
questões religiosas, morais ou de qualquer outra natureza são resolvidas,
prontamente aceitando as coisas que os Criacionistas da Terra Jovem estão
apresentando e rejeitando o que a geração mais antiga de estudiosos ensinou da
Escritura, é desconcertante. A relativa facilidade com que os Cristãos abandonaram
o que há muito tempo é aceito como ortodoxo[1] é alarmante. Basicamente, o que está sendo dito é que
aqueles homens dotados e espirituais que minuciosamente interpretaram Gênesis 1
com uma lacuna (alguns dos quais são mencionados nas páginas iniciais deste
livreto) estão enganados no que ensinaram, e que se eles soubessem o que
sabemos da ciência hoje, não teriam ensinado essas coisas!
No entanto, isso questiona o julgamento espiritual e o discernimento
desses talentosos e respeitados estudiosos da Bíblia. Excluir o que esses
homens ensinaram porque cientistas instruídos (embora Cristãos) descobriram
certas coisas em seus microscópios e telescópios é algo inacreditável. É
realmente pôr a ciência acima da Palavra de Deus! Parece que os Cristãos de hoje
confiam mais no discernimento dos cientistas do que no discernimento dos
piedosos que ensinaram sobre a Bíblia! Isso realmente se resume a isso: Nosso entendimento
da criação é baseado na ciência ou no que a Palavra de Deus diz? A Bíblia não
diz: “Pela ciência, entendemos que foi o universo formado...”, mas sim, “Pela
fé, entendemos que foi o universo formado...” (Hb 11:3 – TB). A verdadeira ciência validará a
Palavra de Deus, mas a “falsamente chamada ciência” milita contra a
Palavra (1 Tm 6:20). No fundo de tudo isso, vemos uma confiança indevida na “ciência
incerta da geologia” (W. Kelly) e uma triste falta de confiança no que nos foi
ensinado da Palavra de Deus pelos mais confiáveis mestres da Bíblia.
Pode-se argumentar que os Criacionistas da Terra Jovem procuram apoio de
tudo o que encontraram na ciência na Palavra de Deus. De fato, eles usaram a
Escritura para apoiar sua crença, mas nós mostramos que eles não usaram a
Palavra de Deus corretamente para apoiar suas conclusões sobre a criação.
Coisas têm sido inferidas na Escritura para fazer a Escritura se encaixar em
suas crenças. Por exemplo, eles afirmam que Gênesis 1:1-2 é parte dos seis
dias, quando claramente não é. Eles também afirmam que criar, fazer e formar
são a mesma coisa, mesmo que a Escritura mostre o contrário. Eles afirmam que
Adão trouxe pecado e morte para a criação – e não Satanás. Dizem que os
dinossauros foram criados ao mesmo tempo que os homens e viviam na Terra juntamente
com eles. Se é assim, devem ter estado na arca de Noé, porque a Escritura diz
que “dois de cada espécie” de animais entraram na arca (Gn 6:19-20).
Sabendo que isso representa um problema devido ao seu enorme tamanho, alguns
cientistas criacionistas nos dizem que esses dinossauros entraram na arca como
bebês; outros dizem que morreram mais cedo – mas isso é pura especulação. É
desnecessário dizer que inferir coisas na Escritura é uma maneira inaceitável
de lidar com a Palavra de Deus. Ao fazer isso, as interpretações dos
criacionistas da Terra Jovem tornam a Escritura (sobre este assunto) subserviente
à ciência!
Quando as coisas na ciência parecem entrar em conflito com a Escritura,
o Cristão deve se apegar à Escritura e colocar de lado estas coisas que a
ciência (assim chamada) está dizendo. Isto é porque as coisas que são
apresentadas como ciência podem não ser verdadeiramente ciência; são coisas que
os homens aprenderam e eles podem estar enganados. A Escritura, por outro lado,
nunca está errada. C. H. Mackintosh colocou isto de forma sucinta: “Os geólogos
podem explorar as entranhas da terra e extrair dali materiais a partir dos
quais querem adicionar e, em alguns casos, contradizer o registro divino. Eles
podem especular sobre restos fósseis; mas o discípulo se firma com deleite
sagrado sobre as páginas inspiradas” (“Notes on Genesis”, págs. 1-2). Em muitos casos, os Criacionistas da Terra Jovem
não fazem isso. Eles se apegam ao que eles acham que a ciência está dizendo
(quando parece favorecer uma Terra Jovem) e tentam interpretar a Escritura para
apoiar suas conclusões erradas.
[1] N. do T.: Ortodoxo provém da palavra grega “orthos” que significa “reto” e “doxa” que significa “fé”. É o que está
em conformidade com a doutrina tida como verdadeira.
Pode Haver Duas Lacunas!
Pode Haver Duas Lacunas!
Walter Scott, E. Schuyler English e outros, sugerem que pode muito bem
ter havido duas lacunas! Eles não são dogmáticos a respeito disso, mas sugerem
isso para mostrar que não podemos ir além do que é afirmado na Escritura. O
primeiro verso afirma que Deus criou os céus e a Terra; não nos é dito quanto tempo
durou aquele estado primitivo: Aí teríamos a primeira lacuna. Então, somos
informados de que a Terra foi devastada por alguma agitação ou julgamento. Mais
uma vez, não nos é dito quanto tempo a Terra ficou nesse estado; daí outro
período que não foi revelado – uma segunda lacuna.
A Evidência do Julgamento dos Massoréticos Eruditos
A Evidência do Julgamento dos Massoréticos[1] Eruditos
O texto hebraico massorético de Gênesis 1 indica uma pausa nos
versículos 1-2. Esses antigos estudiosos judeus incorporaram pequenos
indicadores no texto para ajudar os leitores na pronúncia e interpretação. É
significativo que eles tenham inserido uma pequena marca (chamada de “Rebhia”)
após os versículos 1-2. Ela serve para informar ao leitor que há uma ruptura
nesse ponto na narrativa. Estas Rebhias não estão nos manuscritos originais, e,
portanto, representam apenas o julgamento que foi considerado pelos
Massoréticos, mas o seu julgamento acadêmico deve ter algum peso nesta questão.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Em resumo, estas evidências certamente indicam uma lacuna entre as duas
obras de Deus de criar e fazer em Gênesis 1. Estamos, portanto, persuadidos de
que a lacuna não é uma “teoria”, mas é algo que tem apoio bíblico.
[1] N. do T.: Massorético: Diz respeito à Massorá, (do
hebraico “massorat” que significa
“tradição”). É o conjunto dos comentários críticos e gramaticais acerca da
Bíblia (sobretudo o Velho Testamento) feitos por doutores judeus. (Novo
Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa – 3ạ Edição de 2004).
Interpretação Dispensacional
Interpretação Dispensacional
A outra maneira pela qual a passagem pode ser interpretada simbolicamente
é a dispensacional – na verdade, “os tempos dos séculos” (2 Tm 1:9; Tt 1:2).
Novamente, a mesma ordem de geração, degeneração e regeneração ocorre. O
capítulo apresenta um esboço dos caminhos de Deus para com os homens ao longo
do tempo. É apropriado que tenha sido dado no início da Palavra de Deus (At
15:18).
A criação original em sua beleza primitiva, antes da destruição da Terra,
representa a era da inocência (antes da queda – Gênesis 3), quando o homem foi
colocado sobre a Terra em um estado sem pecado.
- O primeiro dia corresponde à era depois que o
homem pecou, quando ele e sua posteridade adquiriram a luz da consciência.
- O
segundo dia
corresponde à idade após o dilúvio, quando os homens foram colocados sob o
autogoverno, mas com muita instabilidade.
- O terceiro dia, que foi quando a terra surgiu
das águas, representa o surgimento de Israel (a terra) entre as nações gentias
(os mares), no chamado de Abraão e sua família.
- No quarto dia os luminares nos céus (o Sol e a
Lua) foram colocados em seus lugares. Isso tipifica a Igreja (a Lua) sendo
chamada à existência em relação a Cristo (o Sol) como Seu corpo – uma companhia
celestial de crentes.
- No quinto dia houve uma perturbação nas águas,
mas de lá surgiu bênção. Isso fala dos tempos conturbados da Grande Tribulação,
pelos quais Israel e as nações gentias passarão (Jr 30:7; Mc 13:8) antes que a
bênção seja alcançada.
- O sexto dia representa o dia milenar quando
Cristo e a Igreja (o antítipo de Adão e Eva) terão domínio sobre o universo.
- O sétimo dia nos fala do descanso eterno de Deus.[1]
Nosso objetivo em delinear os dois temas do ensino simbólico do capítulo
(moral e dispensacional) é mostrar que ambas as aplicações seguem o padrão de
geração, degeneração e regeneração. E, se esse padrão não estiver no texto –
como dizem os Criacionistas da Terra Jovem – então o ensinamento simbólico da
passagem se tornará nulo e sem efeito. Portanto, a interpretação da “Terra Jovem”
destrói a simbologia da passagem e, portanto, não pode estar correta.
[1] N. do A.: Veja “Genesis in
the Light of the New Testament” por F. W. Grant, para uma mais completa
explicação do ensino simbólico da passagem.
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